1. INTRODUÇÃO
A globalização tornou-se uma espécie de palavra da moda. Muitas vezes dita, mas raramente com o mesmo significado. Trata-se na verdade, de um daqueles conceitos tão amplos, que é empregado por diferentes pessoas para explicar fatos de natureza completamente diversa, podendo ser associada a uma grande variedade de fenômenos. Neste trabalho, vamos abordar algumas reflexões sobre as conseqüências da globalização, principalmente no que se refere aos impactos nas estruturas sociais, que implicam e conduzem a um novo quadro social da sociedade contemporânea, bem como seus efeitos nas relações sociais e na forma de atuação das organizações, buscando uma relação entre a globalização, às desigualdades sociais e o desenvolvimento pessoal e organizacional.
2. GLOBALIZAÇÃO E AS QUESTÕES SOCIAIS.
Com a globalização o mundo se torna fluido, graças às novas tecnologias de informação e comunicação. As fronteiras tornam-se permeáveis, tanto para uma quanto para a outra, e isso acaba por modificar e afetar a natureza do Estado-nação, causando, assim, pouco a pouco, a perda ou enfraquecimento de sua identidade nacional.
A disputa pelo mercado torna os empresários individualistas. Raramente se pensa no aspecto social, no emprego, no salário justo do trabalhador menos qualificado. As grandes empresas já não significam aquilo que são pelo seu valor material, pela sua produção, pelo número de trabalhadores que empregam. A sua importância encontra-se assentada no mercado de ações. Assim, no momento em que, apurando um ilusório e individualista "custo-benefício", demitem funcionários para diminuir despesas, o valor de suas ações aumenta no mercado de capitais, trazendo mais lucros para seus acionistas.
As empresas de todos os setores, em razão da globalização, agora instaladas em várias partes do mundo, transferem a qualquer tempo seus quadros de produção para onde a mão-de-obra estiver mais barata, gerando desemprego no território abandonado. Também declaram seus lucros em países onde a tributação seja menor e as despesas, onde os tributos sobre as rendas sejam mais pesados, burlando a lei e sonegando impostos, embora de forma legal.
Empregos que antes eram garantidos, hoje, não são mais do que meros trabalhos temporários. Em busca da mão de obra barata, as empresas passaram a terceirizar trabalhos, deixando de se responsabilizar pelos encargos trabalhistas. Operários que antes exerciam o trabalho no interior das fábricas, com carteira assinada, plano de saúde, creche para os filhos, hoje acabam por se contentar em exercer um trabalho informal, muitas vezes dentro de sua própria casa, com o auxílio de toda a família, utilizando-se do trabalho infantil, sem as mínimas condições de salubridade.
Hoje, as fábricas e montadoras usam, na sua maioria, grandes máquinas computadorizadas, onde antes eram usados inúmeros empregados.
Na área industrial, a partir da idéia da globalização, os fatos não estão ocorrendo de forma muito diferenciada. O desenvolvimento da tecno-informação levou as empresas a incrementarem sua produção cada vez com maior vigor. Nesse sentido, o mundo do trabalho passa por um terremoto que não respeita ninguém. Há uma revolução no trabalho . Cargos que antes eram vitalícios passam a ser considerados temporários. A velocidade dos conhecimentos acaba atropelando aqueles que antes se achavam seguros em suas aptidões.
Para os empresários não há pensamento social, para eles tanto faz ter mil como cem funcionários. O importante é o lucro gerado pela empresa.
Essa racionalização, relativa à mão-de-obra, passa a ter conseqüências desastrosas na sociedade. A primeira conseqüência é o empobrecimento das populações em que a parte que não perde seus empregos acaba tendo seus salários reduzidos. Seu poder de compra acaba sendo diminuído com as conseqüências óbvias no comércio e mesmo na indústria.
As riquezas, dessa forma, passam para as mãos de poucos, enquanto a grande maioria acaba sendo sacrificada, criando-se uma espécie de apartheid, marginalizando parte da sociedade e criando uma divisão entre os mais abastados e aqueles que nada possuem. Esses, por nada possuírem, acabam, muitas vezes, por se voltar contra a outra parte da sociedade, porque possuem um mínimo indispensável para a sobrevivência, gerando os conflitos sociais, a marginalidade, o tráfico de drogas e outras espécies de delitos.
Os países subdesenvolvidos conheceram três tipos de pobreza no último meio século. A primeira seria a que denominou de "pobreza incluída", que é acidental, às vezes, sazonal e que não possui vasos comunicantes; a segunda seria a que chamou de "marginalidade", a que era produzida pelo processo econômico da divisão do trabalho e que poderia ser corrigida através da intervenção dos governos; a terceira, a que passamos a encontrar nos dias de hoje, é a pobreza “estrutural”.
A pobreza estrutural é aquela que está presente em todo o mundo e por isso globalizada, ainda que mais presente nos países de menor desenvolvimento. Trata-se de uma pobreza de novo tipo, uma pobreza globalizada que resulta de um sistema de ação deliberada, gerado pela retirada do poder público das tarefas de proteção social e da baixa remuneração do emprego. Ao contrário dos dois tipos anteriores, esse tipo de pobreza é "generalizada, permanente, global". Seria resultante da convergência de diversas causas que se dão em vários níveis, como algo racional, como resultado necessário de todo o processo e até considerada um fato natural.
Os pobres e miseráveis brasileiros, os que não possuem casa, comida, escola, saúde, ou seja, aqueles que não têm os mínimos recursos para uma sobrevivência digna, compõem uma população equivalente à de países como a França, ou ao dobro da população da Argentina. Portanto, a pobreza é a falta de todas as condições de sobrevivência, a falta de um emprego, um trabalho, uma atividade dignamente remunerada.
3. CONSEQUÊNCIAS SOCIAIS DA GLOBALIZAÇÃO.
A globalização é uma forte geradora de desigualdade salarial e acesso do trabalhador à educação. Verifica-se também que a falta de trabalho segrega o ser humano, deixando sem condições de acesso à escolaridade a ele próprio e seus filhos, produzindo um círculo vicioso. Sem trabalho digno não há condições dignas de sobrevivência, nem de educação. Sem educação não se pode disputar um mercado de trabalho imensamente restrito e qualificado, pois o pobre jamais consegue deixar esse círculo vicioso, a menos que de alguma forma, haja a intervenção de terceiro. Portanto, é necessária uma distribuição de renda e de riqueza, uma vez que da riqueza extrai-se renda e com a renda as pessoas podem ter acesso às condições dignas de sobrevivência.
O processo seguinte à pobreza é a miséria e, desta, a marginalização daquela parte da população que não possui as condições sociais que se referiu antes. As pessoas oprimidas pela pobreza acabam por se distribuir na periferia das grandes cidades, nas favelas, em morros, em locais públicos e, mais recentemente, já passaram a morar ao relento ou embaixo de viadutos, caracterizando-se como miseráveis.
Essas condições indignas de sobrevivência, como não poderia deixar de ser, contribuem para o aumento da criminalidade. Surge uma guerra daqueles que nada têm contra aqueles que, na maioria das vezes, pouco têm. Os crimes contra o patrimônio são os que mais ocorrem nas cidades de médio para grande porte.
As características da globalização do final do século XX são bastante conhecidas, bem como seus efeitos colaterais, como é o caso da insegurança, geralmente associada à pobreza, gerada pela falta de oportunidades e de condições de sobrevivência do indivíduo. Com isso, as classes sociais mais abastadas acabam por se isolar, construindo verdadeiras fortificações ou cidades independentes com Leis próprias e sistemas de segurança que substituem o Estado no seu dever de prestá-la.
A discriminação aos miseráveis, criada por forte efeito da globalização, fomenta a atividade marginal e enfraquece o poder do Estado-nação que passa a não mais comandar os destinos de seus cidadãos, os quais, para não sofrerem mais violência, acabam aceitando a proteção de um poder paralelo alimentado pelo crime, pelo tráfico de drogas e pela lavagem do dinheiro ilícito.
A separação da população entre os que possuem um certo padrão monetário e os marginalizados já começou ocorrer, sendo assim chamada, doutrina individualista pregada pelo sistema capitalista.
4. GLOBALIZAÇÃO COMTEMPORÂNEA: quem lucra e quem tem prejuízo?
Evidentemente, os ganhadores devemos procurar em primeiro lugar nos países desenvolvidos. Trata-se dos proprietários e dirigentes das sociedades econômicas, que realizam a exportação de capital e a transferência da produção para outros países. Eles ganham triplamente! Primeiro: no novo local a força de trabalho custa significativamente menos. Em segundo lugar: ali as autoridades em geral favorecem os investidores com impostos facilitados. Em terceiro lugar: conservando os seus antigos mercados eles adquirem novos. De fato, distribuindo em diversos lugares seus produtos eles ficam independentes dos governos e, escorregando do controle social, eles tornam-se quase invulneráveis. Tudo isso resulta num abrupto crescimento de lucro para os proprietários e para os seus dirigentes privilegiados.
Ganhadores também encontram-se nos países que aceitam essa exportação: primeiro aquelas elites locais que organizam a produção. Lucram também aqueles trabalhadores dos países que aceitam o capital que são empregados pelas fábricas recém-criadas: pois eles de modo geral passam a ter trabalho e talvez até recebam um salário um pouco mais alto do que de costume. Lucra inicialmente também o estado aceitador do capital: apesar do favorecimento de impostos, cresce um pouco sua arrecadação, e em virtude da queda do desemprego tornam-se moderados os custos sociais. Os problemas surgem quando essas empresas passam a remeter seus lucros para fora do país. Isso dificilmente é suportado pela balança monetária exterior desses países, também não equilibrada: em geral eles tentam tapar o buraco pela combinação de empréstimos e atração de mais investidores. Têm prejuízo nos países desenvolvidos antes de tudo aqueles trabalhadores que por causa do deslocamento da produção perdem seu trabalho; mas têm prejuízo também seus governos. Em conseqüência da produção transferida encolhe a arrecadação de impostos, enquanto cresce o desemprego, gerando custos governamentais. Sair desta armadilha é possível somente por meio de economia nos custos sociais, redução do nível de provisão social e do nível de vida em geral.
Perdedores encontram-se também nos países que aceitam a importação de capital. Por causa da abrupta abertura das economias nacionais ali podem ser destruídos todos os ramos industriais tradicionais, liquidando mais locais de trabalho do que produz a importação de capital. O repentino aparecimento de novas culturas de produção, além da eficiência que traz perspectiva de evolução, podem causar um choque psíquico com suas conseqüências sociais negativas. Muita destruição segue também desta forma de globalização cultural que é incorporada principalmente pela penetração de um conjunto de despretensiosas "novelas" e filmes irradiando agressividade. Esse fluxo imbecil de imagens consegue empobrecer a cultura da língua, marginaliza a cultura escrita, a base do que faz o homem tão grande quanto ele é.
5. A FAMOSA “NOVA ERA DA HISTÓRIA HUMANA”.
Quem perde e quem ganha com a globalização.
Pela atual forma de globalização durante um período mais longo perderá todos os homens, pois ultimamente em todo o mundo estão sendo constantemente revisados os contratos sociais, em favor do capital. Os países desenvolvidos perderão e os menos desenvolvidos apenas aparentemente ganharão. Eles também perderão em perspectiva, pois certamente nunca atingirão o nível atual, que outrora de fato poderiam atingir.
Então, a resposta a “Globalização - uma chance para a paz”? não pode ser de significação única. Os pontos negativos que acabaram de ser listados fazem muitos responderem negativamente. Porém rejeitá-la de todo não é possível, e mesmo se fosse, seria imprudente. Se o intelecto humano teve sucesso em criar um aparato de transporte e telecomunicação graças ao qual é possível uma intensa colaboração da humanidade de 6 bilhões, seria tolice não usá-lo.
Nós podemos responder afirmativamente à globalização, mas com um enfático "NÃO" à dominação mundial feita por um deles. Os americanos tem de fato muitíssimas razões para se orgulharem, mas eles devem compreender que não trarão felicidade à humanidade restante se em toda parte no globo terrestre crescerem cópias dos Estados Unidos.
CONCLUSÃO
A globalização é uma realidade que trouxe grandes mudanças aos setores público, econômico e social de todo o mundo, alterando antes de forma jamais vista o modo de ser, agir, falar, pensar da humanidade dentro de um curtíssimo espaço de tempo.
É marcada de forma cristalina a ruptura desse processo de identidade entre território e comunidade. Surge nesse momento o progresso através da tecnociência, cujo uso é condicionado pelo mercado e nem sempre está a serviço da humanidade.
De fato a globalização tem “efeitos devastadores” que se resumem em: aumento do desemprego, das desigualdades sociais dentro do país e entre eles, da predominância dos interesses mercantis conta os objetivos sociais, da diminuição do papel do Estado como fonte de correção das desigualdades introduzidas pelos mercados, da crescente renúncia de soberania nacional em face do crescimento das regras multilaterais relativas ao comércio, finanças, meio ambiente, entre outras áreas regulatórias. Tem-se, pois, que à partir da existência, permanência ou agravamento de problemas sociais, nem todos vinculados à globalização, mas se extrai a conclusão que a globalização é uma forte geradora da separação da população entre os que possuem um certo padrão monetário, ou seja, têm acesso a educação, capacitação e os marginalizados, sendo assim chamada, doutrina individualista, pregada pelo sistema capitalista.
Mas a verdade é que temos que encarar a globalização de frente, aproveitando os seus aspectos positivos e neutralizando os negativos, pois estamos no mundo contemporâneo dominado pela globalização.
segunda-feira, 12 de outubro de 2009
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